Veja como está o cenário da prematuridade em Santa Maria e o avanço das instituições na assistência

O Novembro Roxo acabou, mas a conscientização sobre os índices de prematuridade no país segue. Segundo o relatório “Nascido cedo demais: década de ação contra o parto prematuro”, o Brasil apresentou queda na taxa de nascimentos de bebês com menos de 37 semanas nos últimos 10 anos, passando de 12% em 2010 para 11,1% em 2020. 

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​Apesar disso, o documento produzido e divulgado em 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) junto com a Parceria para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil (PMNCH) mostra que o Brasil ainda ocupa a terceira posição na lista dos países com maior taxa de nascidos prematuros na América Latina. 

Para lidar com o cenário, é necessário informação, acesso aos devidos serviços de saúde e acima de tudo, investimento nas instituições hospitalares que prestam assistência nestes casos, evitando óbitos de bebês prematuros.  

Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, 12.722 nascimentos foram registrados entre 2019 e agosto de 2023 em hospitais públicos e privados de Santa Maria. Entre eles, estão o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) e o Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, que contam inclusive com Unidades de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. 

Na reportagem, conheça a história dos gêmeos Leonardo e Eduarda, que nasceram prematuros. Veja como o pré-natal e outros serviços são essenciais no processo e como as instituições de Santa Maria têm avançado nesta pauta. 

Desafios

Os gêmeos Leonardo e Eduarda, de 1 ano e 6 meses, brincam na sala de casa no Bairro Pé de Plátano. Na estante, registros em família e das crianças ainda recém-nascidas geram reflexão. Em outubro de 2021, os professores universitários Ana Carolina Cozza Josende da Silva, 36 anos, e Vinicius Radetzke da Silva, 41 anos, descobriram que seriam pais. A partir da confirmação da gravidez, eles deram início ao acompanhamento médico.

– Todos os exames estavam dando certo, até que eu fiz um ultrassom em maio de 2022. E nesse exame deu que o cordão umbilical de um dos bebês estava com restrição de alimento e oxigênio. No outro dia, eu fui fazer um outro ultrassom às 14h no hospital e o médico falou que teria que fazer a cesárea – relembra Ana Carolina. 

Os gêmeos nasceram no dia 12 de maio de 2022, com 33 semanas de gestação, no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, sendo encaminhados para o Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal. Segundo Ana Carolina, devido ao nascimento prematuro, os filhos pesavam menos de 2 quilos cada um:

– Eles tiveram que passar por uma avaliação. Eu não tive o primeiro contato. O pediatra trouxe os dois só para que eu pudesse ver e já levou para a UTI. A Eduarda ficou 27 dias lá e o Leonardo, 41 dias. A Eduarda só precisava de tempo para atingir o peso e o Leonardo, além do peso, teve uma complicação com a respiração. O pulmãozinho dele não estava totalmente pronto.

Em 23 de junho de 2022, Eduarda e Leonardo se encontraram pela primeira vez na casa da família. O momento é descrito com emoção por Vinicius. Hoje, o casal busca falar sobre a experiência para informar e conscientizar outros pais sobre os riscos da prematuridade. Ao ver os filhos bem e crescendo, o sentimento é de felicidade.

– Hoje, vemos eles cheios de saúde e frequentando a escolinha. Então, isso nos traz de alguma forma um apreço maior pela vida. Nossos filhos são hoje guerreiros, porque conseguiram vencer essa etapa. E nós, abençoados – conta Vinicius, sorrindo.  

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Cenário 

Por considerar a idade gestacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como prematuros bebês que nascem com menos de 37 semanas. Dentro do conceito, há subclassificações. Prematuros tardios são bebês que nascem entre 34 e 36 semanas e seis dias. Já crianças que nascem antes de completar 28 semanas de gestação são considerados prematuros extremos.

Segundo a médica pediatra, Luísa Mendonça de Souza Pinheiro, muitos bebês prematuros tardios não necessitam de encaminhamento para UTI Neonatal por já desempenharem diversas habilidades dentro do útero, havendo a possibilidade de que fiquem com a mãe em alojamento conjunto.

– Via de regra, os bebês menores de 34 semanas serão encaminhados à UTI Neonatal, pois consideramos que ainda precisam aprender e desenvolver funções. Fora que terão um melhor suporte e vigilância se internados em uma unidade específica de cuidados – complementa. 

Enquanto mestranda em Saúde Materno-Infantil pela Universidade Franciscana (UFN), Luísa afirma que é necessário um cuidado maior com os bebês prematuros, sendo essencial o acompanhamento multiprofissional para o desenvolvimento:

– A primeira coisa que precisamos compreender é que o tempo de desenvolvimento dos prematuros é diferente dos bebês a termo, porque eles terminaram sua formação fora da barriga da mãe. É necessário considerar a “idade corrigida”. Conforme as necessidades, fazemos encaminhamentos para estimulação precoce com fonoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, entre outros. Há uma atenção especial também com os olhos dessas crianças, por conta da possibilidade de Retinopatia da Prematuridade. 

Pré-natal

Uma das estratégias para diminuir os índices de prematuridade é a realização do pré-natal. O processo, que é composto por anamnese (entrevista), consultas, exame físico e análises de exames laboratoriais e de imagens, pode ser feito gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em todas as unidades de saúde de Santa Maria.

Preconizado pelo Ministério da Saúde, as consultas de pré-natal buscam acompanhar o quadro de saúde da mãe e do bebê, evitando o desenvolvimento de doenças maternas como infecção urinária, hipertensão arterial, diabetes gestacional, dentre outras, que também podem levar ao parto prematuro.

– O nascimento de um bebê prematuro requer tanto organização da família, quanto dos profissionais de saúde que o acompanham. Momentos oportunos para prevenção da prematuridade e promoção da saúde materno-paterno são as consultas pré-natais, neste caso, realizadas pelo profissional enfermeiro e médico na atenção primária. É neste momento que o profissional acolhe e orienta a família. Nas consultas, pode-se identificar fatores que contribuem para o parto prematuro e intervir para que não seja, pelo menos, um nascimento prematuro extremo. Caso ocorra o nascimento prematuro, é importante que a mulher tenha uma rede de apoio fortalecida – comenta o enfermeiro pré-natalista e mestrando em saúde materno infantil pela UFN, Leandro Medeiros. 

Para o profissional, a taxa brasileira de prematuridade pode com pequenas estratégias: estimular o planejamento familiar, estruturar as maternidades e UTIs neonatais, além de investir na qualificação dos profissionais que acompanham o pré-natal.

Assistência hospitalar

Segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, 12.722 nascimentos foram registrados entre 2019 e agosto de 2023 em hospitais públicos e privados de Santa Maria. Entre eles, estão o Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo e o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), que contam inclusive com unidades de terapia intensiva Neonatal. 

O Complexo Hospitalar conta com um Centro de Terapia Intensiva (CTI) para garantir os cuidados a bebês recém-nascidos, com baixo peso ao nascer ou que enfrentam problemas de saúde graves. Eduarda e Leonardo fazem parte dos mais de 540 bebês com menos de 37 semanas de gestação que deram entrada na Unidade entre 2019 até outubro de 2023. 

No Husm, a UTI Neonatal presta assistência a recém-nascidos críticos com até 28 dias de vida, incluindo malformações, pós-operatórios ou ainda bebês que, inesperadamente, passam por alguma dificuldade. Atendendo a mais de 40 municípios gaúchos, o serviço conta com uma equipe multiprofissional especializada, composta por enfermeiros, técnicos de Enfermagem, auxiliares de Enfermagem, médicos rotineiros, médicos plantonistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogas, psicólogas, assistente social, nutricionista e apoio administrativo. 

Entre 2019 e outubro de 2023, 137 crianças deram entrada na Unidade. Após receber alta, as crianças prematuras que nasceram no Husm são acompanhadas pelo ambulatório de segmento de egressos da UTI Neonatal até os 7 anos de idade.

A reportagem destaca que as instituições não contam com dados totais sobre nascidos prematuros, portanto, os índices podem apresentar variações. 

Confira os dados sobre nascimentos e pacientes prematuros destes dois hospitais

Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo

Nascimentos 

  • 2019 – 1.212
  • 2020 – 1.238
  • 2021 – 1.179
  • 2022 – 1.220
  • Até setembro de 2023 – 845

Pacientes prematuros que internaram na CTI Neonatal

  • 2019 – 113
  • 2020 – 106
  • 2021 – 110
  • 2022 – 103
  • Até outubro de 2023 – 110 

Husm

Nascimentos

  • 2019 – 2.151 
  • 2020 – 2.112 
  • 2021 – 2.026 
  • 2022 –  2.219 
  • Até outubro de 2023 – 1.874 

Pacientes prematuros que internaram na UTI Neonatal

  • 2019 – 16
  • 2020 – 29
  • 2021 – 37
  • 2022 – 27
  • Até outubro de 2023 – 24   

Veja o cenário gaúcho de nascimento e prematuridade:

Nascimentos 

  • 2019 – 134.399
  • 2020 – 130.611
  • 2021 – 124.356
  • 2022 – 120.936
  • Até outubro de 2023 – 97.242  

Prematuros (com menos de 37 semanas)

  • 2019 – 16.421
  • 2020 – 15.729
  • 2021 – 15.264
  • 2022 – 15.559
  • Até outubro de 2023 – 12.544 

Observações: 

Os dados de 2022 são preliminares e devem ser fechados neste ano. Já os dados de 2023 são considerados como parciais pela Secretaria Estadual de Saúde. 

Fonte: BI/NIS/DGTI/SES RS


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